NFTs, arte e rentabilidade
Ultimamente, muito tem sido falado sobre NFTs, a nova moda digital do momento. Mas será que essa nova tecnologia veio mesmo pra ficar ou vai ser só mais uma dessas inovações que vimos por aí e depois de um tempo somem sem deixar rastros?
Bom, pra responder a essa pergunta, a primeira coisa que precisamos entender é que os tokens não fungíveis, ou NFTs, não são algo relativamente novo. A tecnologia de tokens já existe há tempos e foi mais difundida após a chegada das criptomoedas. E, de certa forma, se comportam como tal. CryptoKitties, um jogo de negociação digital na plataforma de criptomoedas Ethereum, foi um dos NFTs originais, permitindo que as pessoas comprassem e vendessem gatos virtuais, que eram únicos e armazenados na blockchain.
Mas, depois de negociações com valores altíssimos divulgados na mídia, como a venda da primeira obra de arte NFT – uma colagem de imagens do artista digital Mike Winkelmann (Beeple) por incríveis US$ 69,3 milhões – as NFTs de repente chamaram a atenção do mundo. A obra, chamada “Everydays: The First 5000 Days”, é uma montagem de ilustrações digitais, caricaturas e esboços que Winkelmann fez em seu computador, uma por dia, por mais de 13 anos.
O chamado celebrity endorsement também tem seu papel na popularização do conceito, uma vez que o endosso de personalidades influentes, como Justin Bieber e Neymar, geram muitos comentários entre seus seguidores. O jogador de futebol pagou cerca de R$ 6 milhões por dois desenhos de chimpanzés da coleção Bored Ape Yacht Club. O cantor canadense também gostou das obras de arte e adquiriu um NFT da mesma coleção por aproximadamente R$ 6,9 milhões. Seu acervo já conta com 619 NFTs de 49 coleções diferentes.
O que são esses tokens não fungíveis?
Colocando a grosso modo, os NFTs transformam obras de arte digitais e outros itens colecionáveis em ativos únicos e verificáveis, que são fáceis de negociar na blockchain. Embora isso possa estar longe de ser simples para os mais leigos, a recompensa tem sido enorme para muitos artistas, músicos, influenciadores e afins, com investidores gastando muito dinheiro para possuir versões NFT de imagens digitais.
Por exemplo, o primeiro tweet de Jack Dorsey foi vendido por US$ 2,9 milhões, um videoclipe de uma enterrada de LeBron James foi vendido por mais de US$ 200.000 e um Nyan Cat, um desenho animado de um gato cinza feito em pixel art voando no espaço em loop, foi vendido por US$ 600.000.
Interessante, mas eu ainda não entendi
Se você está com dúvidas sobre o que de fato é um token não fungível, nós explicamos. O token registrado na blockchain é um ativo que pode ser uma propriedade, obra de arte ou dinheiro, por exemplo. Quem possui o token de uma obra de arte, possui direito à ela ou parte dela.
Tá, mas o que significa fungível? – O Código Civil Brasileiro diz que bens fungíveis são aqueles que “podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade.” Um bom exemplo é o dinheiro, se você possui uma nota de R$ 20, pode trocá-la por duas notas de R$ 10 ou quatro notas de R$ 5. O valor permanece o mesmo, mas os ativos mudaram.
O não fungível é exatamente o oposto, uma vez que não pode haver uma troca de equivalência em espécie, qualidade e quantidade. “A Noite Estrelada”, pintura de Vincent van Gogh, por exemplo, é um bem não fungível, uma vez que ela é única e, por isso, não há como trocá-la.
Então, são uma nova forma de arte?
Na verdade não, os tokens não fungíveis não são um novo meio artístico, como a pintura a óleo, a gravura, a fotografia ou a videoarte. Mesmo a arte digital antecede os NFTs.
Os NFTs são instrumentos financeiros pensados para facilitar a venda de arquivos digitais. Eles basicamente são responsáveis por atestar que determinado ativo digital é único, o que cria escassez e valoriza a peça.
A difusão e valorização da arte
Há quem diga que as NFTs estão prontas para transformar o mundo da arte, mudando não apenas como a arte é comprada e vendida, mas também que tipo de arte valorizamos e quais artistas. Justin Sun, um proeminente empresário de tecnologia sino-americano, que gastou milhões em NFTs, disse, em uma conversa com o crítico de arte Sebastian Smee, que eles irão “revolucionar o modelo de negociação existente no mercado de arte, especialmente para arte digital”.
Mas os NFTs não trarão apenas a arte digital à tona. Sun também afirma que os NFTs trarão “transparência para o mundo da arte”, uma vez que os dados registrados na blockchain são públicos e podem ser consultados facilmente. Outro ponto interessante para os artistas são os royalties de revenda, que podem ser recebidos sempre que um trabalho for negociado. Ou seja, os NFTs podem incorporar contratos – chamados smart contracts – que concedem aos artistas uma porcentagem toda vez que aquele ativo for vendido.
“NFTs já transformaram o mundo da arte, independentemente de o boom continuar” – Hans Ulrich Obrist, diretor artístico da Serpentine Gallery.
Obras de arte físicas também podem ser transformadas em ativos NFTs. Graças aos contratos inteligentes, é possível criar um pacote digital de dados seguros sobre esse trabalho, incluindo um registro de sua propriedade, instruções sobre seus cuidados e exibição e estipulações sobre quanto dinheiro deve ir para o artista quando for revendido.
E pra onde caminha tudo isso?
Bom, fato é que há muito ainda a ser visto sobre essa relação um tanto quanto emblemática. A descentralização, seja financeira, seja artística, é um fator-chave nas negociações dos ativos digitais e das criptomoedas, característica essa que permite uma maior liberdade para seus usuários. O hype é real, mas é totalmente compreensível. A febre do NFT está tornando evidente que o “mundo da arte” compreende um conjunto cada vez maior de comunidades díspares.
Para entender até onde os NFTs podem chegar, é preciso pensar primeiramente que a arte que se valoriza está diretamente ligada à sua visão de mundo. Se você pensa na arte como a capacidade de sermos impactados por objetos no mundo físico, então naturalmente irá priorizar a experiência, produção e divulgação de objetos físicos.
O mundo está em constante transformação e conceitos, que antes pareciam imutáveis, vêm sendo reescritos de acordo com as evoluções tecnológicas e sociais.